quinta-feira, maio 31

E se eu encontrasse o telemóvel dela?

Ler nas Mensagens a mesma entrega que me oferecias, e o valor de quem a elas te responde.

Ver nas
Fotos e Vídeos, onde estiveste, com quem estiveste, e o que fizeste. Tudo sem mim, sempre sem mim.

Preencher cada data assinalada na tua Agenda.

E no 200 ouvir as vozes, para rever ou criar os rostos que agora te beijam...

Ter acesso ao telemóvel de um grande amor perdido, é o tormento mais masoquista que me ocorre.
Cada instante voltaria a ser o pior da minha vida mas eu ia espreitar todos os cantos do aparelho.
Corpo tremendo, mente viciada, coração correndo até à síncope talvez, mas remorreria a viola-la.

Abraço ao Mar

terça-feira, maio 29

EU desafiado

EU QUERO viver mais uns Dias.

EU TENHO Arte.

EU ACHO que sou diferente.

EU ODEIO quando a minha filha não está bem.

EU SINTO demasiado.

EU ESCUTO bem.

EU CHEIRO a André.

EU IMPLORO que Deus (os meus Deuses) zele pela minha filha.

EU PROCURO fluir-me.

EU ARREPENDO-ME... o pior é que não me arrependo!

EU AMO a minha filha, a minha cadela, dois amigos, três mulheres, a agua, a noite, e a Arte.

EU SINTO A FALTA e vou sentir para sempre.

EU IMPORTO-ME e exporto-me.

EU SEMPRE que posso isolo-me.

EU NÃO FICO dois dias sem criar.

EU ACREDITO em quase tudo.

EU DANÇO no sentido lato da palavra.

EU CANTO imenso.

EU CHORO, agora menos.

EU FALHO às vezes...

EU LUTO bravamente mas com egoismo.

EU ESCREVO porque gosto de opinar.

EU GANHO em montes de jogos de Tabuleiro.


EU CONFUNDO-ME com a noite.

EU ESTOU vivo

EU FICO FELIZ por experimentar tanto sentir.

EU TENHO ESPERANÇA de ser rico
.

EU PRECISO da Netcabo.

EU DEVERIA cuidar-me.

EU SOU o André, bom dia.

EU NÃO GOSTO de espinhas, unhas, piercings faciais, aves depenadas, e da falta de tempo.

Abraço desafiado

Desafio proposto por Papoila Sonhadora um privilégio para este seu admirador.
Muito obrigada e um beijo.


(Sei que é uma tremenda desconsideração mas passei o “Desafio” a dois proprietários de espaços fechados, a CINDY e o PHANTASMA.)

domingo, maio 27

O vício

Tentar controlá-lo é um desperdício primário de tempo e energia, à primeira oportunidade ele reinstala-se com a mesma comodidade de sempre.

Conseguimos encontrar inúmeros argumentos e quanto mais fortes formos mais argumentos conseguimos descobrir para o justificar. Mas por mais argumentos que inventemos para enganar a nós e aos outros, só existem duas formas de ultrapassar o “vício”: Uma Lobotomia, ou corta-lo pela raiz e banhar a lancha chamas o espaço que ficar!


Abraço chamuscado

quinta-feira, maio 24

Imaginar-me

Preciso de momentos que me permitam purgar o bom e o mau, equilibrar os sentires através da catarse do sonho conduzido com que a imaginação mima o espírito. Parar de pensar e imaginar-me.

No carro penso mais do que imagino mas quando me imagino é para ultrapassar as leis e saldar as minhas contas com o Mundo. Se eu fosse Deus existiam muito menos pessoas!

Enquanto lavo a loiça consigo encontrar espaço para parar de pensar e imaginar-me. O barulho do esquentador, a agua a correr e os movimentos ritmados, concedem-me alguns minutos de transe com vista para o Pacifico.

O banho é o espaço de eleição para me imaginar. Nele me perco em meias horas de outras vidas com outras mulheres, outros filhos, outro corpo, outro ritmo…

Nos momentos pós adormecer a filhota pela enésima vez na madrugada, aqueles momentos que se passa deitado a seu lado refém da mais bela mão do Universo, já adormecida mas ainda demasiado desperta para nos deixar voltar aos afazeres, nesses momentos sonho-me diferente: imagino-me no futuro.

Não existissem esses momentos e não existiria este Abraço

terça-feira, maio 22

O Tempo que Cura

Na idade das descobertas aprendi com o Povo que “O Tempo tudo cura!”, e realmente, o Tempo de tudo me tem curado. Mas o ditado popular, convenientemente, omite as Cicatrizes… as cicatrizes não saram com o tempo, as cicatrizes NUNCA saram!

Sobreviver à minha ultima Morte foi uma surpresa.
O tempo deixou de existir. Não parou, tornou-se desnecessário.
Fiquei suspenso no querer ou não continuar… aceitar ser o vácuo depois de ter sido a perfeição, fotografar o nada para alem do tudo que antes fui, cantar sem o feeling do Tejo, desenhar a moldura sem tela que somos quando o Amor não agarra.

Fiquei suspenso no querer ou não continuar… até perceber que mesmo morto fotografava, cantava e desenhava. Morto por morto prefiro cantar!

Mil vezes amaldiçoei o Tempo que por mim deixou de passar, mil vezes amaldiçoei tudo o resto… e quando já só existiam coisas boas para amaldiçoar, saturei-me de amar e de odiar, cansei-me de não ter forma ou conteúdo, fartei-me de não ser Eu. Decidi ser alguém todos os dias e, dia a dia, cá estou mais próximo do que fui e com o Tempo voltarei a ser.


A Cicatriz lateja,
ubíqua, mas já não baila ao ritmo da Aorta, constante! Agora a Cicatriz é apenas a minha pele, mais um pedaço de mim. O registro, de olhos fechados imperceptível, de que Eu sou um dos privilegiados que tua com o Amor.

Não deixo de estar morto mas já consigo viver. A alegria não é a mesma mas é genuína e é o de facto, também graças ao Tempo.

Abraço cheio de força para todas as palavras primas que me musaram a escrever este texto

(Vou empacotando cicatrizes numa qualquer gaveta do esquecimento e por lá as tento forçar a ficar, para que não estorvem a respiração e o sorrir do pouco mais que ainda pretendo viver)

domingo, maio 20

Hospital Francisco Xavier SUCKS!

É inacreditavelmente admitido que as multinacionais da farmacêutica testem os seus produtos nas populações mais necessitadas mas, medicamentos como a pílula não podem ser testados em povos em que o conceito da contracepção é inexistente. E é ai que nós entramos, neste caso, as nossas mulheres.

Anos e anos de pílula corromperam a ovulação (25% dos casos de forma definitiva) da mulher portuguesa que, quando quer ser Mãe normalmente tem à sua espera um largo intervalo de ansiedades entre o deixar de tomar a pílula e o engravidar. (fico triste pelas amigas que desistem de ser Mães pelos efeitos secundários que a abstinência da pílula causa aos seus corpos)


Depois de anos de tentativas, ela conseguiu! Uma gravidez de alto risco mas ambos estavam felicíssimos.

Num dos primeiros checks de rotina (multiplicados por dez nas gravidezes de risco) foi dado o temido sinal de alarme que a levou directa ao Hospital São Francisco Xavier para perder o filho que tanto querem, ao ponto de o próprio casamento, no meu pensar, por falta deste filho perigar.

A partir daqui a história envereda por estradas que não compreendo, mas sou suficientemente não-estúpido para compreender que algo está muito errado e não é só com os pais.

Na mesa abriram-na, fecharam-na e foram-se embora, trocaram de turno sem deixar uma única palavra aos familiares que apenas horas depois tiveram o nervo de agarrar uma bata branca pelos colarinhos e colocar a questão: Como está a minha mulher? Como está o meu filho?

O que a bata com óculos lhes respondeu foi que tinha acabado de chegar da sua vida, e que segundo o processo a minha cunhada tinha sido aberta, observada e fechada.

Existe um quisto no assunto, um quisto que, já foi explicado, é natural nas gravidezes, surge com as alterações morfológicas e morfologicamente se consome com a adaptação da Mãe às mesmas. Para estudar um quisto natural não é necessário abrir alguém de urgência.

No processo não existia qualquer referencia à remoção de um feto, mais, não existia qualquer referencia a um feto… Existem sintomas de gravidez mas não existe feto, não é raro mas também aqui não é necessário abrir alguém de urgência para se procurar um feto camuflado algures numa trompa ou parede exterior do útero.

Dois dias passados recambiaram-na para casa, sem explicações à Operação de Urgência, e com um papel que diz que a gravidez está a decorrer normalmente…

Pessoalmente não tenho muito a apontar ao Hospital São Francisco Xavier, mas começo a conhecer demasiadas pessoas que o têm.

Cheira-me a incompetência nos procedimentos técnicos mas acima de tudo no trato com a emoção dos futuros pais que deixaram de o ser para já não saberem se o são ou se a mulher vive ou morre, e agora, qualquer um o percebe, recuperam a esperança de ser pais por uma vez, por esta única vez.
Anos de emoções condensados em dois dias sem uma única palavra de quem abriu, viu, e fechou…

Abraço aos cunhados

(o “estatuto” de cunhado é mesmo para toda a vida?)

sexta-feira, maio 18

Los Tres Amigos

Eu apaixonado por eles, e eles mataram-se.

y- Como estás?
x- Péssima!
Seguido de um longo e penoso silencio que esclarecia mais que qualquer lágrima em rosto insano.

y- Posso fazer alguma coisa?
x- Podes ajudar o teu amigo.
E despedimo-nos com beijos e abraços repletos de carinho.

"Podes ajudar o teu amigo"
Só o amor permite cuidar com tanto desprendimento, com tão pouca noção de si própria.
Só a pouca noção de si própria permite o desprendimento que tanto obriga a cuidar.

Não estive com ELA mais que uma mão de vezes mas foram vezes até ao dia seguinte, prelúdios da eterna amizade que hoje se encontra comprometida.
Não estive com ELES mais que uma mão de vezes mas invejar a sua felicidade foi essencial para tornar ao caminho da minha. Eles eram lindos!

Depois colapsou a razão porque nos encontrámos… O nosso amigo comum foi o pai de nós mas vocês deixaram-se demasiado cedo e sem ele ainda não sabemos ser irmãos.
Não posso abandonar alguém que me diz estar péssima mesmo que seja a assassina do meu amigo, mas também não a posso ajudar porque não sei calar este repúdio machista à forma como ela ama o meu amigo.

E os dias passam… que saudades de uma Guinness.

Abraço aos dois e a quem mais acolhe os pedaços

quarta-feira, maio 16

Dia a P/B

Quando os minutos permitem que se ande a pé, é um regalo para o fotografo.

Walking Session - 16 de Maio 2007

Ao Baixo:
a) Pedrouços
b) Belem
c) Pedrouços
Ao Alto:
a) Restelo
b) Restelo
Abraço a Preto e Branco

terça-feira, maio 15

Dias Sentados

Dedos bons acariciaram-me o peito afastando-me da passagem, e dirigiram-se à mesa da cozinha onde do ombro pousaram o arsenal que faz a mulher.
O eco da cadeira arrastada abafou o meu baque quando para ela me empurrou, ambos rivalizando já na dureza do pau.
Cavalgámos a cozinha de parede a parede e volta, até se vir furiosa à entrada do quarto.

Olhou-me maldosa escorregando para o chão, suada, brilhante, irresistível.
Desci para com o mesmo egoísmo saquear agora eu o meu quinhão, mas ela empurrou-me para a cama, pediu-me que prometesse que não me viria, e amou-me? amou-se, uma e outra vez.
Depois caiu-se a meu lado num cansaço convidativo e, exibindo-me as espaldas perfeitas, desobrigou-me da promessa.
Lancei-me para as suas costas mordendo-lhe o pescoço, e ouvi: “ainda bem que o meu homem não pôde sair hoje, estava mesmo a precisar de me vir!”. Todo o meu sangue fluiu da pila para o Ego, ressenti o mais privilegiado dos homens, e nesse sentir a deixei adormecer.
Mais tarde vim-me no seu peito enquanto ela dormia.


Abraço espaldado


Foi assim que soube que tínhamos voltado a ser amantes.

segunda-feira, maio 14

Memices

Um meme, termo cunhado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller controverso O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que respeita à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma.

Reli o que ainda recordo dos meus textos…
- Há vida aos 40, igualmente intensa e talvez mais rica.
- O Amor é o mais completo dos sentires mas invariavelmente mata!
O resto são dias, e o gozo de ilustrar as minhas palavras com as minhas photos.

Dissecado o meu Meme, beliscando este Ego mega orgulhoso pela nomeação, não consigo ler-me como portador do carisma do verbo que se transmite, mas atrevo-me a iludir que os actos narrados possam contribuir para que alguns realmente evoluam, nem que seja apenas instigando-lhes a obrigação moral de viver um bocadinho mais, e que o façam nem que seja apenas aprendendo o que eu apreendo.

Obrigada SONHADORA, concedeste-me a maior das honras blogisticas, mas uma honra que se consome quando leio quem me Mema.

Para a escolha dos Blogs que me Memam, baseei-me no carácter da pessoa que nasço do virtual, a gente que imagino pelas palavras. Dessa gente destaco quem leio mais próximo do estado que deveria definir o Homem Saudável.

impulsos
É uma daquelas “amigas” com quem não é necessário conversar para se estar todos os dias, faz parte do nosso prazer. Intervala desejos com vivências, pensamentos com devaneios, é uma óptima escritora com um sentir lindíssimo mas acima de tudo um óptimo exemplo de pessoa.
Que o Meme pela tua arte continue a chegar a muitos companheiros e o teu sentir na alma de todos deixe um sopro.
Obrigada e beijo

marisa
É apenas uma vida, mas é uma vida vivida como eu acho que se deve tentar sentir, e escrita com uma feminilidade muuiiito reactiva.
Que o teu Meme passe para muitas porque muito gosto da mulher que leio.
Obrigada e baci

Mestre
Pela rectidão e honestidade do indevido, pela finesse cultural que nunca descora, pela qualidade com que vive a vida, e pela nobreza no trato.
Que o teu Meme ajude muitos homens a serem Homens.
Abraço

OSSOS
Un film noir com produção actual, filmado nas colinas mouriscas do Tejo sobrevoado por aviões anacrónicos.
Que o teu Meme ensine muitos a viver os Blues.
Obrigada e beijo

PAPOILA SONHADORA
Com ela fantasio e graças à riqueza do escrever sinto, do longe ao insano, mas nunca frio.
Que o teu Meme para sempre vaguei a fibra óptica, super aquecendo os processadores de toda a web. Imaginar, criar e transmitir com a tua arte e o teu sentir, mais que feminino é divino.
Obrigada e beijo salgado

S.M.R.
Quando tem tempo é um turbilhão de energia, felicidade e fé na vida que explode do monitor para o coração. O mundo seria bem menos feio se tivéssemos exércitos de Sonias.
Que o teu Meme se estampe por longos períodos nos rostos de muitas pessoas.
Obrigada e beijo

E não podia deixar de referir o Blog de quem recebi este carinho literário, não como retribuição mas pela efectividade que sinto e desejo ao seu Meme.
sonhadora
A exultação assumida e descomplexada do amor. A cada novo texto, a cada novo manifesto à entrega incondicional, rendo-me por completo ao invejar-te.
Que o teu Meme nos permita aproximar sempre do Amor, e que nunca esqueças Neruda.
Abraço embrulhado em beijinhos

Existe um Meme em todo o verbo, eu acariciei aqueles que melhor me seduzem, não implica que seja os que mais visite ou onde melhor me sinta, apenas gosto muito dos desconhecidos que construo e gostava muito que existissem mais pessoas parecidas com eles.

Abraço memetico

P.S.
Capitão de Malta a ti NUNCA te poderia referir porque JAMAIS desejaria que existissem dois malteses!

P.S.2. Desconheço se existe um limite ao numero de acariciados, se existia: azar!

domingo, maio 13

Medos

Alguns foram os espaços que habitei, mas nunca tinha vivido sozinho.

Na mesma bandeja que me trouxe a excitação da novidade, e a paixão dos planos para respirar (semana sim semana não) os dias de Pai solteiro, foram-me também servidos os receios “típicos” de quem habita sozinho um espaço.

Medo da Invasão
É o mais palpável dos medos; ter o nosso espaço violado por intrusos. No entanto, foi um medo que me visitou com menor regularidade, porque é mais confortável defender um espaço quando não existe o compromisso de uma família nas costas.

Medo do Escuro
Identifico-me com a penumbra, dentro e fora de portas, mas compreendo que possa ser desagradável. Tive o privilégio de viver em espaços que me permitiram adormecer sobe janelas abertas de cortinas e estores, por isso este é um Medo por quem não me recordo de ter sido visitado.

Medo da solidão
Os silêncios, as rotinas dos silêncios, as formas patéticas de se preencher os silêncios… a inexistência de contactos, de afectos, de partilhas… o jantar solado, crua e cruel a cama fria… Várias noites de solidão esmagam qualquer hipótese de alegria!

Medo do “Desconhecido”
Sozinho sou mais vulnerável ao paranormal e essa é uma porta que não quero ter aberta. Várias noites temi não estar espiritualmente só, mas continuo a optar pela ignorância.

Medo da Doença
O hipocondrismo tende a desaparecer quando não existe ajuda presente…

Medo da Responsabilidade
As preocupações inerentes ao ter de gerir um espaço sem qualquer ajuda. Eis um temor que não me chegou a roçar, sei gerir o que tenho com o que tenho.

Medo do Medo
Não tive muito tempo para ansiedades, estive ocupado a sentir.

Abraço com algum Medo

quinta-feira, maio 10

Entre casas

Com ambas as emoções disse um palavrão e começou a fazer a primeira das mil malas que nos próximos dias o esperavam.

Aquelas duas malas acompanham-no à uma eternidade, ostentam códigos de identificação falidos, são dois pedaços de sempre. Têm-lhe acudido a cada início, a cada novo Lar. As suas bases são sólidas, as toneladas de livros e discos que conheceram mistificam-nas. A seu lado a mochila de campismo é um adolescente.

Foram diferentes os dias de pai solteiro e gulosos os dias simplesmente solteiro, mas se pretendo passar despercebido às valquírias está na altura de regressar. Mas regressar para onde?


E tomei a ultima decisão altruísta da minha vida, pelo menos assim o espero.


Com ambas as emoções disse um palavrão e colocou o carro em marcha para a primeira das mil viagens entre casas, tantas casas e nenhum lar... vai ser desta !?
As malas no banco de trás e a mochila no banco da frente sorriram-se e repetiram comigo um palavrão...

Abraço carregado

segunda-feira, maio 7

Avelha

Antes de eu existir a minha Mãe era uma miúda lindíssima que com o “Êxodo Rural” trocou as praias viradas para Africa por uma janela com vista para o Mar da Palha.
A fome deu a coragem da saudade às nossas gentes que qual tsunami povoaram Lisboa.

Esta loira de olhos azuis nem presa foi, foi uma dádiva na estrada de um Negro com pinta e bem-falante que a amou até terminar os seus estudos Universitários, e foi à sua vida com um canudo chulado, deixando para trás uma mulher lindíssima com uma criança mulata nos braços em dias de Guerra Ultramarina. Péssimos dias para se ter uma criança mulata nos braços.

A criança foi tão cruel como o Negro, um estigma que não a abandonou tão cedo como o Negro. Mas ela, a Mãe, amou esta criança mais que a si própria. Por ela voltou a passar fome, por ela voltou a casar, por ela continuou a passar fome, por ela perdeu a vida, mas na sua capacidade limitada de discernir realidades presumo que esteja convicta que se limitou a cumprir a sua Missão.

Esta criança com pinta e bem-falante, é o mais mimado dos filhos. Por ela asfixiado em atenções, por ela vigiado em todos os olhos de todos os lugares em que me sento.

Agora, recentemente viúva, loira de olhos azuis mas feia, está a preparar o futuro da minha filha pós sua morte, mas FINALMENTE partilha mais esta tarefa com a procura da SUA felicidade.
Talvez demasiado tarde mas é possível que a minha Mãe tenha percebido a razão da minha distância.

Como é possível que esta loira de olhos azuis que podia e devia ter tido o Mundo, do Mundo tenha abdicado por uma besta tão explícita como eu?
Não te amo velha, (ou talvez ame sem coragem para o admitir) mas tenho por ti um enorme respeito, meio paternalista meio hipócrita, tenho por ti algo que AGORA gosto bastante de sentir.

Obrigada

Abraço Mãe



quarta-feira, maio 2

Grandes Momentos

EU sei que vais morrer novo.
A vontade, o álcool, a estrada, as amigas, a adrenalina, a noite, o heroísmo, o azar… um deles vai-te matar.

EU sei que até morreres recusas responsabilidades.
Até nisso és inteligente porque idiota seria pesar em ti qualquer grilhão. És demasiado livre, demasiado imaturo, demasiado egoísta!

Mas,
a) Quero um filho que NOS perpetue.
b) És um espécimen com bons genes.

Escolhe o mimo que melhor te transborde do Ego mas EU quero ser MÃE! e tu vais ser o Pai!

Estranhei, ELA costumava emoldurar os grandes momentos com Lou Reed. Mas fazia sentido, Frank Zappa tínhamos sido a dois, continuaríamos a sê-lo a três.


Não com ELA, mas lembro-me de já ter esboçado o que seria um FILHO meu… nunca pensei que o teria.

a) Amava ter um filho mas uma miúda tão espectacular como TU merece um filho de outro alguém, e ambos sabemos que tenho razão.

b) Mas TU fazes ideia do que é ser Mãe? Em tua casa eram cinco, em minha fomos EU e a minha Mãe. Uma eternidade de trabalho, presa e isolada!

Nesse dia deixou de tomar a pílula, anos depois fomos pais, ELA é Mãe e EU sobrevivi.


Abraço de Pai

Nove meses dentro de nós, comendo-nos, respirando-nos… afirmava-o na adolescência com paixão experimentalista, reafirmo-o agora com a convicção adicionada pelo “conhecimento de causa”: ser Mãe é a única Psiquê que me foi negado representar.

Minha foto
Algés, Oeiras, Portugal
eu sou quem