segunda-feira, dezembro 31

E porque não amor cantar
quando tudo é o que nos falta ?
E porque não ressuscitar
depois de cada derrota ?
E porque tanto demora o tempo
para nos permitir regressar
para nos devolver o alento
da vontade de nos gritar ?
E sem vontade de muito mais
muito mais que este viver
da caridade de meus pais
de ver uma filha crescer.
E porque não apenas pausar
hibernar por uns anos ?
Parar enfim de respirar
que o corpo restaure os danos.
Porque tudo deste sentir
me impele para nós de novo
sabedor de todo o porvir
mais um Zé neste povo.
Que tanto amo e desprezo
desde a aurora ao serão
que mais que menosprezo
em cada nova canção.
E agora tornei-me outro
a todos os Zés semelhante
manada com mais um morto
menos um ser refilante.
E porque não amor cantar
nas vésperas de outro morrer
sem qualquer vontade de acordar
destituído de razões para ser ?
E porquê catalisar-me assim
masoquista de outra vida
dependente de um sim
para regressar à deriva ?
Guardei todas as palavras tuas
mesmo aquelas que disseste nua
entrarei carpindo pelas ruas
na eterna companhia da lua
E porque não amor cantar
e porque não tanto escrever
invés do lento me  suicidar ?
Sem paciência para reaprender.
E porque não amor cantar
esta derradeira melodia ?
Saudades de acordar
saudades de outro dia.
(pic not by me)
Minha foto
Algés, Oeiras, Portugal
eu sou quem