domingo, novembro 19

Do verbar.

Falamos, dizemos, debitamos.

Hoje limitamo-nos a descarregar palavras, frases, conhecimentos, conceitos, certos ou errados mas invariavelmente monologados. Já não trocamos ideias, não conversamos, não permitimos que outrem nos ajude a enriquecer o discurso e o saber, não invitamos alguém a participar, queremos apenas ouvir-nos.

Na melhor das tertúlias esprememo-nos em monólogos mais ou menos soluçados pelos ritmos de interrupção dos receptores, onde nos esforçamos por encontrar algum espaço decibelico na avalanche de monólogos inconfluentes que nos rodeiam, criando uma teia caótica de verbos que nem sempre se cruzam, que se entrelaçam sem sentido, sem sentidos, que chocam, que reverbam, que se perdem no ruído da torrente, bombardeando-nos apenas e também com as suas palavras, as suas frases, conhecimentos e conceitos, certos ou errados mas invariavelmente monologados.

Já não ouvimos, não debatemos, não discutimos, não conversamos. Falamos, dizemos, debitamos. Atropelamo-nos, sobrepomo-nos… e chegamos ao final do dia com dois ou três semi parágrafos de interesse, que não desenvolvemos porque já estamos exaustos de tentar dizer a quem não ouve, respeita ou acompanha. Demasiado vampirizados para um direito de resposta, desmotivados para qualquer achega emocional ou cultural, e indiferentes a qualquer segundo de atenção.

Blateramos-nos.
Minha foto
Algés, Oeiras, Portugal
eu sou quem