E
porque não amor cantar
quando
tudo é o que nos falta ?
E porque
não ressuscitar
depois
de cada derrota ?
E porque
tanto demora o tempo
para
nos permitir regressar
para
nos devolver o alento
da vontade
de nos gritar ?
E sem
vontade de muito mais
muito
mais que este viver
da caridade
de meus pais
de ver
uma filha crescer.
E
porque não apenas pausar
hibernar
por uns anos ?
Parar
enfim de respirar
que
o corpo restaure os danos.
Porque
tudo deste sentir
me impele
para nós de novo
sabedor
de todo o porvir
mais
um Zé neste povo.
Que
tanto amo e desprezo
desde
a aurora ao serão
que
mais que menosprezo
em
cada nova canção.
E
agora tornei-me outro
a todos
os Zés semelhante
manada
com mais um morto
menos
um ser refilante.
E
porque não amor cantar
nas vésperas
de outro morrer
sem
qualquer vontade de acordar
destituído
de razões para ser ?
E
porquê catalisar-me assim
masoquista
de outra vida
dependente
de um sim
para
regressar à deriva ?
Guardei
todas as palavras tuas
mesmo
aquelas que disseste nua
entrarei
carpindo pelas ruas
na
eterna companhia da lua
E
porque não amor cantar
e porque
não tanto escrever
invés
do lento me suicidar ?
Sem paciência
para reaprender.
E
porque não amor cantar
esta
derradeira melodia ?
Saudades
de acordar
saudades
de outro dia.