domingo, novembro 19

Do verbar.

Falamos, dizemos, debitamos.

Hoje limitamo-nos a descarregar palavras, frases, conhecimentos, conceitos, certos ou errados mas invariavelmente monologados. Já não trocamos ideias, não conversamos, não permitimos que outrem nos ajude a enriquecer o discurso e o saber, não invitamos alguém a participar, queremos apenas ouvir-nos.

Na melhor das tertúlias esprememo-nos em monólogos mais ou menos soluçados pelos ritmos de interrupção dos receptores, onde nos esforçamos por encontrar algum espaço decibelico na avalanche de monólogos inconfluentes que nos rodeiam, criando uma teia caótica de verbos que nem sempre se cruzam, que se entrelaçam sem sentido, sem sentidos, que chocam, que reverbam, que se perdem no ruído da torrente, bombardeando-nos apenas e também com as suas palavras, as suas frases, conhecimentos e conceitos, certos ou errados mas invariavelmente monologados.

Já não ouvimos, não debatemos, não discutimos, não conversamos. Falamos, dizemos, debitamos. Atropelamo-nos, sobrepomo-nos… e chegamos ao final do dia com dois ou três semi parágrafos de interesse, que não desenvolvemos porque já estamos exaustos de tentar dizer a quem não ouve, respeita ou acompanha. Demasiado vampirizados para um direito de resposta, desmotivados para qualquer achega emocional ou cultural, e indiferentes a qualquer segundo de atenção.

Blateramos-nos.

sexta-feira, outubro 13

Tarantula c/ batatas fritas e uma mijadela


Finalmente, o nosso excelso parlamento aprovou a lei que permite a entrada de animais de estimação em restaurantes, cafés, bares e afins.
Para minha tranquilidade absoluta, só falta a PROIBIÇÃO de entrada a crianças mal educadas quando acompanhadas por pais que o permitem. E a permissão de se puder fumar um cigarrito indoors a partir das duas da matina.
No entanto tenho uma duvida; repteis e aracnídeos são considerados animais de estimação aos olhos desta lei ? É que não me apetece mesmo nadinha uma carne de porco à alentejana enquadrada por tarântulas e iguanas…

Saúdo ainda a redução do IVA para 13% nos instrumentos musicais. Assim vamos ser mais a instrumentalizar o Grandola vila morena invés de granadar toda esta corja.

quinta-feira, setembro 14


Ó quão rica a memoria de um pelo.
Em contra-picado cegamo-nos na cascata que, se bem fornicados, nos conseguirá até engasgar os orgasmos.
Em plange, enquadram pescoços salivados, arranhados e mordidos, onde no êxtase mergulhamos, afogando ou ouvidando a voz do esperma.
Chegamos a cometer a heresia, a ultimate nojice, de nos deslizarmos troncos abaixo ou pernas acima, para beijarmos, lambermos e até sorvermos de onde eles e elas fazem xixi, e não raro, lá vem um pintelho entre os dentes, na língua, na face…

Ó quão triste a memoria de um pelo.

Mas, e encontrar um deles no bidé ? Fardos a entupir a banheira ? Ah a heresia (de uma refeição à borla) , no prato da sopa ??

Um pelo, cabelo, sobrancelha, pintelho, tem a vida datada ao momento em que se separa, arranca, corta ou é amputado do anfitrião.

A massa que mergulhamos, que nos cócega, que nos acolhe, lixo é desligado de gente.
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Algés, Oeiras, Portugal
eu sou quem